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Vacina para a Covid-19 vai exigir transparência sobre a sua eficácia e segurança

Os primeiros resultados dos testes em humanos de várias vacinas contra a Covid-19 mostraram alguns efeitos secundários, como dores de cabeça e desmaios.

Para Miguel Castanho, investigador principal do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, esta informação não é, por si só, um indicador de insucesso do desenvolvimento da vacina já que apesar de “os primeiros testes de vacinas e medicamentos serem feitos em indivíduos saudáveis, o aparecimento de efeitos secundários deste tipo é relativamente frequente e não compromete o desenvolvimento dos projetos, embora obriguem a afinar estratégias e a introduzir melhorias até que a formulação final seja segura. São ocorrências desta natureza, a par de outras dificuldades frequentes, que levam a que o desenvolvimento de uma vacina tome, em média, 15 anos no total”. Para o investigador, no caso da vacina contra a Covid-19 e tendo em conta os resultados conhecidos até agora, o que poderá estar em causa é “o desenvolvimento excecionalmente rápido de uma vacina segura”.

As mais recentes notícias apontam para a comercialização de uma vacina já a partir do mês de setembro e, inclusivamente, a China acaba de comunicar a aprovação de uma vacina para uso exclusivo dos seus militares. “Estas parecem ser boas notícias, mas a verdade é que existe ainda uma desconfiança sobre a verdadeira eficácia destas ‘soluções relâmpago’, se tivermos em conta que o período normal para o seu desenvolvimento é superior a uma década. Por isso, o desenvolvimento muito rápido de uma vacina contra a Covid-19 vai exigir uma apresentação muito transparente sobre a eficácia e segurança da mesma, sobretudo para quem mais precisa de ser protegido: a população de idade mais avançada”.

Apesar disto, a urgência de uma cura para o novo coronavírus parece ser cada vez maior, sobretudo numa altura em que a ameaça de uma segunda vaga é cada vez mais discutida. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e vários especialistas já alertaram para esta possibilidade, que pode chegar mesmo antes do inverno. Atualmente, “assistimos a um aumento do número de casos explicável pelo desconfinamento. Podemos ter a infelicidade de no próximo inverno surgir uma estirpe mais nociva do vírus SARS-CoV-2, mas nada aponta para que assim seja”. Miguel Castanho recorda o exemplo devastador da segunda vaga da Gripe Espanhola mas considera comparações diretas precipitadas. “No outono de 1918, em algumas áreas geográficas, começaram a surgir focos de gripe com uma mortalidade superior e atacando sobretudo adultos jovens. Crê-se que se tratou de uma nova estirpe do vírus, mais perigosa, que surgiu precisamente com o início do inverno, quando a fisiologia respiratória está mais fragilizada. Esta conjugação de fatores, aliada à debilidade das tecnologias médicas da altura, teve consequências trágicas. Não é o que estamos a viver agora, e estes acontecimentos não são diretamente extrapoláveis para a Covid-19, mas devem deixar-nos alerta”, acrescenta.

Sobre aumento do número de casos em Portugal após o desconfinamento, Miguel Castanho acredita que inicialmente “foi o sentimento de medo que assegurou a disciplina verificada durante a quarentena. Os exemplos de Espanha e Itália eram elucidativos. A disciplina do confinamento desse período inicial conteve, de facto, a expansão das infeções virais”. “Contudo, atualmente passámos da euforia triunfalista dos primeiros tempos a um sentimento de incredulidade. Não existe um plano de ação fixado pela positiva para encontrar as verdadeiras causas dos focos existentes e, por consequência, não há planeamento sólido de estratégias de mitigação. Faltam medidas pró-ativas assumidas para melhor caracterizar e combater o que está a suceder. Ser proibicionista não basta”, conclui o investigador.

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